sexta-feira, novembro 16, 2007

Eu sei...

Eu sei...
Não penses que não sei, porque sei...
Sei porque tenho essa capacidade de saber... Saber tão bem, como tu sabias... essa capacidade de olhar, e relamente ver...
Por isso não me digas, o que eu já sei ser verdade... mas por saber essa verdade, espetam-me agulhas no peito. Não tenho vergonha de dizer que ainda, sim, ainda choro por ti, como se de ontem se tratasse... minto, com se de hoje se tratasse... e sim, é por saber...
É por saber que não te vou ter mais... que certamente já voltas-te, mas não me pertences. Fico feliz por o saber, o quanto gostas de ensinar, mas ao mesmo tempo, só, ... só, sem ti.
Só, sem o teu olhar, só, sem o teu sorriso, só, sem os teus pensamentos, que iam tão além... Sinto-me fútil sem ti. Eu! Fútil! Mas sim, é assim que me sinto, sem ti e rodeada por superficialidades constantes,...
Depois de te conhecer é díficil não ver,...

"Ela canta, pobre ceifeira
Julgando-se feliz talvez;
Canta, e ceifa, e a sua voz, cheia
De alegre e anónima viuvez,

Ondula como um canto de ave
No ar limpo como um limiar,
E há curvas no enredo suave
Do som que ela tem a cantar.

Ouvi-la alegra e entristece,
Na sua voz à o campo e a lida,
E canta como se tivesse
Mais razões p'ra cantar que a vida.

Ah! canta, canta sem razão!
O que em mim sente 'stá pensando.
Derrama no meu coração
A tua incerta voz ondeando!

Ah, poder ser tu, sendo eu!
Ter a tua alegre inconsciência,
E a consciência disso! Ó céu!
Ó campo! Ó canção! A ciência

Pesa tanto e a vida é tão breve!
Entrai por mim dentro! Tornai
Minha alma a vossa sombra leve!
Depois, levando-me, passai!"
Fernando Pessoa