Não penses que não sei, porque sei...
Sei porque tenho essa capacidade de saber... Saber tão bem, como tu sabias... essa capacidade de olhar, e relamente ver...
Por isso não me digas, o que eu já sei ser verdade... mas por saber essa verdade, espetam-me agulhas no peito. Não tenho vergonha de dizer que ainda, sim, ainda choro por ti, como se de ontem se tratasse... minto, com se de hoje se tratasse... e sim, é por saber...
É por saber que não te vou ter mais... que certamente já voltas-te, mas não me pertences. Fico feliz por o saber, o quanto gostas de ensinar, mas ao mesmo tempo, só, ... só, sem ti.
Só, sem o teu olhar, só, sem o teu sorriso, só, sem os teus pensamentos, que iam tão além... Sinto-me fútil sem ti. Eu! Fútil! Mas sim, é assim que me sinto, sem ti e rodeada por superficialidades constantes,...
Depois de te conhecer é díficil não ver,...
Depois de te conhecer é díficil não ver,...
"Ela canta, pobre ceifeira
Julgando-se feliz talvez;
Canta, e ceifa, e a sua voz, cheia
De alegre e anónima viuvez,
Ondula como um canto de ave
No ar limpo como um limiar,
E há curvas no enredo suave
Do som que ela tem a cantar.
Ouvi-la alegra e entristece,
Na sua voz à o campo e a lida,
E canta como se tivesse
Mais razões p'ra cantar que a vida.
Ah! canta, canta sem razão!
O que em mim sente 'stá pensando.
Derrama no meu coração
A tua incerta voz ondeando!
Ah, poder ser tu, sendo eu!
Ter a tua alegre inconsciência,
E a consciência disso! Ó céu!
Ó campo! Ó canção! A ciência
Pesa tanto e a vida é tão breve!
Entrai por mim dentro! Tornai
Minha alma a vossa sombra leve!
Depois, levando-me, passai!"
Fernando Pessoa
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